sábado, 27 de agosto de 2011

ELES ESTÃO SUCATEANDO A SAÚDE COM UMA ÚNICA FINALIDADE: ENTREGAR PARA AS OSs - ORGANIZAÇÕES SOCIAIS


Com fortes contrações e a bolsa rompida, Lorena da Cruz, de 18 anos, passou quase seis horas sentada num banco de madeira na porta da Maternidade municipal Alexander Fleming, em Marechal Hermes, à espera de atendimento. Além dela, outras duas jovens em trabalho de parto, A., de 17 anos, e E., de 27, esperavam havia nove horas. Enquanto as grávidas aguardavam suas vagas, a sala do pré-parto da maternidade tinha seis dos seus 12 leitos vazios. A espera delas foi flagrada por repórteres do GLOBO há pouco mais de duas semanas. Na ocasião, a maternidade do Hospital municipal Paulino Werneck, na Ilha do Governador, tinha dez de seus 13 leitos vazios.
— Moro em Paciência, e a maternidade mais próxima seria a do Hospital Pedro II (em Santa Cruz), que não está funcionando — contou Lorena, que chegou à maternidade às 15h e, até as 21h, esperava uma solução para o seu caso.

Comissão de Saúde enviará relatório ao MP e à OAB

Segundo funcionários da Alexander Fleming, por falta obstetras e pediatras, no início deste mês a maternidade vinha fechando as portas às terças e sextas-feiras à noite. Além disso, a unidade fechava um dia no fim de semana por 24 horas. Há cerca de duas semanas, numa terça-feira à noite, uma vistoria da Comissão de Saúde da Câmara surpreendeu os médicos de plantão. Naquele momento, dois obstetras e um pediatra estavam no local.
Durante a vistoria, o presidente da Comissão de Saúde, Carlos Eduardo de Mattos (PSB), exigiu a internação de Lorena e das outras duas grávidas. Elas foram atendidas por volta das 21h. Todas as gestantes moram na Zona Oeste e tinham encaminhamento do pré-natal para o local.
A Comissão de Saúde enviará relatórios com a situação das maternidades ao Ministério Público e à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ). No fim de semana passado, segundo o vereador, sete grávidas aguardaram sem sucesso, por quase nove horas, atendimento nâ Alexander Fleming:
— No Rio, existe o difícil direito de nascer.
As grávidas da Zona Oeste têm que escolher entre a superlotação da maternidade do Hospital Estadual Rocha Faria ou tentar a sorte em maternidades municipais, como a Alexander Fleming.
A deficiência no atendimento às gestantes é agravada pela falta de médicos. Segundo Clara Fonseca, diretora do Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde (Sindisprev-RJ) e presidente da Associação dos Funcionários do Rocha Faria, a unidade com freqüência tem grávidas em poltronas no corredor. Em alguns partos, enfermeiros fazem o trabalho de obstetras, porque os médicos estão ocupados com outras gestantes. A carência de funcionários no
Rocha Faria também foi constatada pelo Conselho Regional de Enfermagem, em vistoria há três meses. Segundo a vice-presidente do órgão, Maria Therezinha da Silva, a realização de partos por enfermeiros ocorre em casos de emergência.

Na maternidade do Hospital Paulino Werneck, a situação é caótica. Há 15 dias, também em vistoria da Comissão de Saúde, apenas uma obstetra estava de plantão. Nas semanas anteriores, segundo funcionários, a maternidade fechava as portas aos domingos e segundas-feiras à noite, além dos sábados, por 24 horas. Com 70% dos leitos ociosos, a unidade — que já fez 150 partos por mês — não ultrapassa 30 procedimentos agora.
A carência de profissionais nas maternidades públicas é vista com preocupação pela presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio e vice-presidente do Cremerj, Vera Fonseca. Segundo ela, a equipe mínima para um parto normal seguro é de' dois obstetras, um pediatra e um anestesista.

A Secretaria municipal de Saúde informou que a Maternidade Alexander Fleming e a do Paulino Werneck têm redução de pessoal devido a licenças médicas e aposentadorias. Semana passada, o órgão autorizou a realização de concurso público. Serão 1.700 vagas para médicos. Já a Secretaria estadual de Saúde negou que gestantes estivessem internadas em poltronas no Rocha Faria. Segundo o órgão, o plantão do setor tem sete obstetras e as enfermeiras do hospital não fazem partos.

Internação improvisada


A falta de médicos no Hospital Paulino Werneck não é um problema que atinge apenas a maternidade. Por carência de clínicos, a unidade teve duas salas da enfermaria com 24 leitos fechadas. Enquanto isso, há pouco mais de duas semanas, os doentes estavam sendo internados em maças e poltronas. A situação caótica do hospital foi flagrada durante uma vistoria da Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores.
Em uma outra sala do hospital, pacientes estavam internados em poltronas. Há duas semanas, segundo funcionários, três doentes ficaram em bancos de madeira no corredor.
No início deste mês, O GLOBO mostrou que o setor de emergência do hospital foi fechado porque não havia sequer um clínico geral no local. Um cartaz, colado na porta, informava que somente casos muito graves estavam sendo aceitos. A Secretaria municipal de Saúde não comentou as internações em maças e cadeiras no Paulino Werneck.

O GLOBO

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