fórum
O
Ponto Final,
da coluna de Ancelmo Gois de hoje, questiona o Conselho Federal de
Medicina, que continua, desafinando nesta questão da importação de
médicos. "Se era para fazer política, por que então não recomendar
também aos 400 mil médicos brasileiros que procurem preencher as vagas
deixadas pelos desertores cubanos nas 700 cidades que não têm médicos?",
pergunta nosso colunista, convidando os leitores a enviarem Cartas para
a Redação. Eles aceitaram o convite. Participe também com sua opinião
na caixa de comentários.
"URGÊNCIA ELEITOREIRA"
Meu nome é
Roberto Meirelles, sou médico cardiologista do RJ e escrevo
para argumentar contra o verdadeiro crime que é este "Mais
Médicos". Tentarei desmontar as falácias, uma a uma.
Em
primeiro lugar, todo e qualquer médico e profissional da saúde
deste país é a favor de que cada brasileiro (a) tenha acesso ao médico.
Ponto pacífico. Porém a dita "urgência" do programa é claramente
eleitoreira, pois estamos a menos de um ano da eleição e o atual governo
está no poder há quase 12 anos! Temos médicos em número mais que
suficiente para atender as demandas do SUS. Infelizmente somos vice
campeões mundiais em número de escolas médicas (216!), muitas abertas
sem necessidade social, sem qualidade, apenas por interesse econômico
político. Com este número não é necessário "importar" qualquer
profissional, muito menos abrir novas escolas.
Pode acessar o
número de escolas em: www.escolas médicas.com.br. Médicos brasileiros
querem trabalhar e morar no interior, bastando apenas investimento em
unidades de saúde da família bem estruturadas e hospitais regionais de
referência para os casos mais graves e/ou complexos. Associado à este
investimento, a criação de Carreira Médica Nacional, via concurso
público, em tramitação no Congresso, que como política de Estado
permitiria aos profissionais migrar para os rincões do país, levando
suas famílias, com remuneração compatível com outras carreiras de
estado, não estando sujeitos aos costumeiros "calotes" de prefeitos
ineptos. Poderiam construir vínculo com a população local e denunciar
instalações precárias, sem retaliação do alcaide. Há décadas as
entidades representativas médicas cobram esta solução definitiva, sem
serem escutadas pelo governo.
O senhor poderia perguntar: e a
verba? Dinheiro para a Carreira Médica e investimento em redes
estruturadas de saúde existem sim, vide o próprio TCU que divulgou o
absurdo dos mais de 17 bilhões de reais não gastos pelo Ministério da
saúde (acumulado dos últimos três anos)!! Temos então dinheiro para a
solução duradoura e de qualidade para a saúde pública
brasileira: Carreira Médica Nacional e investimento nas unidades de
saúde! Faltam vontade e competência políticas.
Ao arrepio das
leis vigentes no país, o governo prefere aprovar MP que muda o arcabouço
de segurança para a prática médica, via congresso subjulgado por verbas
e cargos, "importando" supostos médicos e eliminando qualquer critério
de aferição de qualidade, no momento chamado Revalida, que consiste de
provas teórica e prática, cuja dificuldade é bem menor que a de uma
prova de residência médica. Vale lembrar que mesmo para este arremedo de
programa, milhares de médicos brasileiros tentaram se inscrever, muitas
vezes sem sucesso, pois o sistema de inscrição é falho, rejeitando o
CRM dos brasileiros. Outro absurdo é que recebemos centenas de queixas
nas redes sociais médicas de que colegas são demitidos de municípios em
todo o país, por prefeitos canalhas, para economizar, ficando apenas com
os cubanos, que como já disse tem formação de técnicos em saúde
(semelhante aos FELDSHERS comunistas) e não de médicos como a
publicidade governista alardeia.
Com as demissões de brasileiros em municípios de norte a sul do país, o programa deveria mudar para Menos Médicos!
As consequências são as atrocidades que todos os dias recebemos pela
mídia: doses erradas de medicamentos, para menos e para mais, podendo
matar, de dipirona à anti-inflamatórios, de antibióticos à
anti-hipertensivos! Prescrições que matam ou não fazem efeito.
Prescrição de medicação veterinária para seres humanos! Recomendações
que beiram o curandeirismo (como comer banana com casca!),
encaminhamentos e solicitações de exames esdrúxulos, que não existem ou
que deveriam ser resolvidos por eles próprios! Mas como, se são
"graduados" em pseudo escolas médicas, precárias, com curriculum
inferior ao de auxiliares de saúde brasileiros!? O próprio Paraguai
negou recebê-los e uma autoridade de saúde daquele país afirmou que
eles" tem conhecimento inferior aos enfermeiros do Paraguai" como
divulgado pela mídia.
Por isso quando deserdam para se livrar dos
grilhões da ditadura cubana, são sim abrigados e recebidos, porém
cargos administrativos são os indicados, pois não tem condições de
exercer a Medicina no Brasil. Foi amplamente divulgado pela mídia que
apenas 8% dos mesmos consegue passar na fácil prova do Revalida(por isso
o governo vergonhosa e ilegalmente os isentou da mesma).
É um
crime contra a saúde da população, desperdiçando recursos que
poderiam interiorizar médicos brasileiros bem formados, ao invés de
financiar ditadura cubana anacrônica. O SUS tem três preceitos
fundamentais,universalidade( que pode e deve ser atendido por nós
médicos brasileiros),integralidade e equidade! Onde está a equidade de
um sistema que divide brasileiros em pessoas de primeira classe e outras
de segunda classe?
Roberto de Castro Meirelles de Almeida, vice-presidente da Associação de Médicos Residentes do Estado do Rio de Janeiro (AMERERJ) na gestão 2004/2005P
"PLANO DE CARREIRA"
"Esta
pergunta já foi respondida pelo Presidente do CFM: se houver salário
digno (U$ 400?), plano de carreira e condições de trabalho, não faltarão
profissionais brasileiros."
Helio de Azevedo, engenheiro
"MENOS CALMANTE ELEITORAL"
Medicina
em saúde pública (e privada também) se produz com enfermeiros, leitos (
limpos!), soro, cadeira, raio-x (funcionando ), cantina (com comida),
remédios, tomógrafos (funcionando), gazes, seringas (e essas são e devem
permanecer descartáveis), esparadrapo e, por óbvio ... médicos (com
estrutura para trabalhar de verdade). No mais, mais transparência com os
"diagnósticos" da combalida saúde pública brasileira e menos "calmante"
eleitoral.
Marcelo Marques
"PRECISAMOS DE POLÍTICAS SÉRIAS DE SAÚDE"
Querido
Anselmo, sou médica e sempre trabalhei no serviço público e formando
jovens médicos que com certeza aceitariam ganhar R$10.000,00 no
interior, desde que fossem oferecidas condições mínimas de trabalho.
Todos sabemos que de nada adianta uma bom cozinheiro sem cozinha. Não é
estranho que quase todos sejam cubanos? Só eles que são semi- escravos
se submeteriam aos riscos desta aventura. Nosso povo precisa ser
respeitado com políticas sérias de saúde e não por programas
eleitoreiros.
Ely Cortes
"O CONSELHO DE MEDICINA TEM RAZÃO"
A
retaliação do Conselho Federal de Medicina é pertinente. O programa
federal passou por cima da maior organização médica do país, deixando
que estrangeiros sem capacitação comprovada trabalhem no Brasil. Antes
de exigir que médicos brasileiros migrem para o interior, o essencial é
que o Governo dê estrutura para essas áreas. Ninguém que vive nos
grandes centros vai querer mudar com a família para uma cidade sem
saneamento básico e sem escolas e hospitais decentes. Trazer os cubanos é
como se uma empresa estivesse contratando novos funcionários para
substituir os que estão em greve.
Andrei Serpa
"POUCOS MÉDICOS VIERAM DE OUTROS PAÍSES"
Seria
bom sermos menos simplistas e perguntarmos ao governo se ele está
disposto a contratar formalmente de acordo com as leis trabalhistas em
vigor os possíveis candidatos entre os 400 mil médicos brasileiros.
Agindo com correção, e respeitando a lei em vigor e a Constituição
nacional, com certeza a necessidade de médicos estrangeiros -- se
existir -- será bem menor. Infelizmente, as pessoas continuam mal
informadas nesse aspecto e querem que os médicos se sujeitem a condições
ilegais e descabidas de trabalho. Ressalto que bem poucos interessados
desse contingente vieram de outros países, o que reforça o fato de um
"sucesso" fake apoiado tão somente na exploração de mão de obra (muito)
barata de uma ditadura. Francamente!!!
Guilherme Bueno
"O MAIS MÉDICOS VISA A ELEIÇÃO DE UM MINISTRO-CANDIDATO"
Estou escrevendo, pois não resisto quando você pede! (...)
Poderia
lhe responder em apenas uma frase: este é um país de homens livres e
ninguém pode ser obrigado a ir trabalhar em algum lugar, assim como tal
sugestão não é de competência do CFM. É claro que há diversas outras
razões.
Permita-me lhe ajudar com um conceito que, reiteradas
vezes lhe apontei em cartas anteriores: o Mais Médicos é um programa
político que visa a eleger um ministro candidato. Fosse este um programa
sério (não disse desnecessário), não teria sido imposto aos cubanos
usados como mão de obra barata em uma vergonhosa relação
econômico financeira entre duas nações. Note que em momento algum
escreverei aqui que não há espaço para médicos estrangeiros no Brasil.
Vou
usar como exemplo a ida de médicos para os EUA. Tente sugerir àquela
nação, uma flexibilização dos critérios para que um médico trabalhe lá!
Já estive em inúmeros hospitais americanos e conheci um número enorme de
indianos, paquistaneses, brasileiros e europeus que trabalham lá, mas
que passaram por diversas provas, que permitiram o exercício legal da
medicina. Eu sei que é injusto (conosco) comparar as realidades,
brasileira e americana, mas um dos argumentos do ex-ministro, agora
candidato, era dizer que em países como os EUA, a Inglaterra e a
Alemanha, existem estrangeiros trabalhando.
Sugiro, também, que
façamos uma breve análise de que cidades estamos falando. Quantos dos
mais de 5 mil municípios brasileiros não deveriam sequer existir, da
maneira que hoje existem. Além da já conhecida farra de políticos em
todos os municípios, você deve saber qual é o grande empregador destes,
não é? Pois é! A prefeitura. Vivemos um arremedo de capitalismo,pois
estas prefeituras deficitárias sustentam diretamente os cidadãos
daquelas cidades, distribuem as inúmeras bolsas do governo federal,
metem a mão no fundo de participação dos municípios e usam seus cofres
para custeio desta máquina, pouco sobrando (não tendo?) para
investimento. Você deve ter visto inúmeras fotos de postos de saúde sem
quaisquer condições de atendimento.
A sociedade brasileira
escolheu se omitir historicamente quando o assunto é saúde. A ideia de
existir um médico por cidade, não é necessariamente boa, o que de forma
alguma significa que a saúde não deva chegar pra cada cidadão
brasileiro.
A adoção de uma postura política do CFM é legítima e
não passa por cima de qualquer lei. Quem fez isto foi o ex-ministro,
agora candidato, desde o princípio deste programa, pois o Revalida foi
ignorado e a remuneração dos cubanos é vergonhosamente menor do que a
dos outros estrangeiros. Este e outros problemas operacionais são
evidenciados na reportagem sobre o tema no GLOBO de hoje.
Rodrigo Barbosa
"PLANO DE CARREIRA É A SAÍDA"
Meu
nome é Heron Sobrinho Silveira. Utilizo esse e-mail para responder sua
pergunta, do ponto de vista de um jovem médico de 31 anos, concluindo
agora sua residência médica em Ginecologia e Obstetrícia e às portas de
uma nova sub especialização: já são dez anos dentro de uma universidade
como aluno.
Adianto que não sou ligado à política, não
tenho nenhum outro conflito de interesse a não ser o futuro da profissão
no Brasil e a qualidade do SUS.
Desde o início, o debate sobre
esse programa tem sido muito inflamado e as informações desencontradas.
Existe um motivo para isso: a atitude autoritária do governo federal.
Explico.
O SUS foi criado na Constituição de 1988, mas,
26 anos depois, ainda não possui uma política de recursos humanos digna.
Em um país continental como o Brasil, com grandes vazios assistenciais e
falta de recursos crônica, as prefeituras eram colocadas em uma
situação de cada-um-por-si. Obrigadas a fazer um verdadeiro leilão por
profissionais, assumiam compromissos que não cumpriam. Os médicos que
aceitavam muitas vezes levavam calote. Os que ficavam, sabiam que nunca
iriam poder sair dali, porque eram funcionários da prefeitura.
A iniciativa do Mais Médicos foi interessante porque significou
uma ação do governo federal, uma chamada de responsabilidade para si,
para cumprir uma função que há muito todos os órgãos médicos
solicitavam. Então por que tanta resistência?
Todos os
países que possuem um sistema de saúde como o SUS, público, universal e
de abrangência, também possuem uma política muito séria de recursos
humanos. Afinal, o que seria do sistema de saúde se não fossem as
pessoas que fazem parte dele? Países como o Canadá, Inglaterra, França,
Austrália e Espanha têm um sistema unificado que respeita o trabalhador.
Esse sistema é semelhante ao que o Brasil usa para preencher as vagas
no Judiciário, Polícia Federal, Exército, MPU, etc. O candidato é
selecionado através de concurso para o órgão, para dedicação exclusiva.
Inicialmente lotado em um local ermo e distante, tem a segurança de que
com o passar dos anos poderá concorrer a vagas em cidades mais
equipadas, de maior porte. Tem a segurança de que tem uma previdência
que lhe assegure em caso de doença ou acidente. É uma opção de vida.
Soluciona de forma permanente a deficiência de pessoal no SUS. Atrai
estrangeiros e suas famílias para fixar, residência no Brasil.
Mas como o Mais Médicos foi gerado? O governo federal engavetou
por anos todas as propostas no sentido de criar a carreira. Enquanto
fingia estar discutindo o assunto com a categoria, lançou o programa,
inicialmente desenhado para os cubanos. Lembre que no discurso inicial
da presidente Dilma, ela anunciou a vinda de 6 mil estrangeiros. Só
depois da reação dos médicos é que eles deram o golpe de mestre: abriram
para os brasileiros. No entanto, os termos foram feitos para nos
afastar. Observe que não tem direitos trabalhistas. Não tem processo
seletivo ou avaliação de competência. Que vários médicos que tentaram se
inscrever para municípios onde trabalhavam eram impedidos e mandados
para estados distantes. Observe que é demissão certa em três anos. Eu
tenho uma filha de 4 anos. Como posso levá-la para o interior do
interior, para locais onde falta estrutura para sua educação, já com a
certeza de que serei demitido em três anos e sairei com uma mão na
frente e outra atrás? Ela com 7 anos e o pai desempregado, sem FGTS
sequer. Se eu sofrer um acidente, contrair malária, ela fica
desassistida. Não faz sentido, seria um irresponsável se aceitasse. Ato
de mau-caratismo foi a campanha difamatória que foi feita conosco.
Venderam a imagem dos cubanos como santos, mas eles fazem parte de um
negocio de um bilhão de reais por ano. E são explorados pela ditadura
dos Castro. Não tem direito de ir e vir. Não podem trazer suas famílias.
Foi baseado na existência dessas pessoas oprimidas que o programa foi
desenhado. Esse era o objetivo inicial, ter margem para utilizar o
dinheiro público em negócios sob cláusulas secretas.
A
melhor forma de garantir a presença de médicos, e de qualquer outro
profissional nos recônditos deste pais é a carreira. Adianto que agora
mesmo, estou me mudando de Recife, capital de Pernambuco para Petrolina,
em pleno sertão. Por que? Porque minha esposa foi admitida em concurso
público, tem segurança jurídica e um ambiente de trabalho que lhe
respeita. Queria poder dizer o mesmo.
O que os médicos
querem agora? Que os direitos trabalhistas de todos os profissionais
integrantes, inclusive os cubanos, seja respeitado. Que eles recebam seu
salário diretamente. E que os Mais Médicos sejam uma ponte para a
solução definitiva que é a carreira nacional no SUS.
Com relação ao Revalida: durante toda nossa vida acadêmica somos
avaliados segundo os critérios brasileiros e quando vamos ao exterior
passamos pelo processo de revalidação conforme a legislação local.
Grupos ligados ao PT já vêm tentando burlar o revalida desde 2005, por
interesse próprio, dos integrantes de movimentos sociais que são
mandados para lá. Nossa pergunta sempre foi: porque não se preparar e
passar na prova, mostrando que é capacitado tecnicamente, assim como
fazemos no exterior. No entanto, a maioria da população não enxerga
assim, e preferiram dispensar qualquer processo de avaliação.
Continuamos achando uma atitude temerária, mas isso não está em
discussão no momento.
Heron Silveira
"QUEREM CRIAR UM NOVO PROFISSIONAL: O MÉDICO-ESCRAVO"
Como
médico, me entristece muito verificar que boa parte da imprensa, na
qual incluo a sua coluna, por não perceber a má eficiência deste
programa.
Sua pergunta sugere que os médicos brasileiros simplesmente não querem preencher tais vagas.
Acredito que outras perguntas mereçam resposta antes.
O
texto da lei que envolve este programa estabelece um prazo de atuação
por três anos. Qual profissional se mudaria para outra cidade,
carregando consigo a sua família, sabendo que não haverá continuidade do
programa. Assim, o que este médico fará depois de três anos, quando já
estiver adaptado ao novo local? Mudará para outra cidade com toda a
família? Em qual programa? Estabelecemos assim um novo profissional, o
médico-nômade.
Esta mesma lei trata um modelo notório de
trabalho como bolsa. Por conseguinte, não envolve nenhum direito
trabalhista. Se este médico adoecer ou se licenciar? E quanto as férias,
FGTS, INSS? Rasgamos então os direitos trabalhistas? Estabelecemos
assim um novo profissional, o médico-escravo.
Nestas
mesmas cidades desprovidas de médicos, conseguimos encontrar juízes,
delegados ou promotores que não tenham uma carreira ou plano de cargos e
salários instituído? Algum destes assumiu tal cargo sem esta
prerrogativa, capaz de oferecer a estabilidade e segurança necessária?
Desta forma, por que não realizar um concurso público no mesmo molde,
com plano de cargos e salários claros, para atrair médicos para o
interior?
Vale lembrar que o último concurso do
Ministério da Saúde para médicos, realizado em 2009/2010 e que inclui
todas as especialidades necessárias, ainda tem alguns milhares de
médicos aguardando convocação (...) Portanto, será que efetivamente
falta médico? Então por que o governo não convoca os que estão na
espera? Não custa novamente lembrar que o salário inicial deste
concurso, com plano de cargos e salários, é de R$2.222,72. Justo isso
para o médico brasileiro? Ainda assim, aceitamos e preenchemos todas as
convocações feitas.
Tenham a certeza que nós médicos
queremos o mesmo que todos os brasileiros, que o acesso à saúde seja
universal. Mas também precisamos de políticas transparentes e
duradouras. Esta é nossa verdadeira luta. Conhecemos a fundo os
problemas do SUS, assim como o governo conhece. Infelizmente eles
parecem que não querem resolver… Buscam remendos e formas obscuras de
pagamentos…
Fernando Bassan, um médico brasileiro.
"E AS CONDIÇÕES DE TRABALHO?"
Ao
ler sua coluna na manhã de hoje, deparo-me com seu questionamento do
porquê dos médicos não preencherem as vagas abandonadas pelos colegas
cubanos.
Pois bem, imagine você, um jornalista altamente
qualificado, ser enviado para cobrir uma guerra na África. Chegando lá
você só dispõe de uma máquina de escrever, papéis amassados e um
fotógrafo que não dispõe de máquina digital. Você iria?
Hugo Alves
"A CLASSE QUER CONCURSO PÚBLICO E SALÁRIO DECENTE"
Como
assinante e leitor do GLOBO, acompanho sua coluna diariamente e sei da
sua importância como informante e formador de opinião. Daí me propor a
contestá-lo diante da malícia de sua dúvida apresentada no Ponto Final.
Coitado do Wagner Moura, já está apanhando da patrulha por dizer a
verdade. Não sei se o Conselho Federal de Medicina vai responder, mas eu
espero que responda com toda a transparência que o assunto requer,
coisa que o governo não está fazendo. Uma pequena nota equivocada e
incriminadora, contra um médico honesto, publicada no mesmo espaço dessa
coluna, assinada por seu antecessor na época, em 1990, acarretou a
demissão de várias pessoas de bem da área de saúde federal. Embora
posteriormente desmentida a notícia, isto não impediu que o referido
profissional, já idoso, viesse a falecer de mal súbito, antes de tomar
conhecimento do desmentido. Não sei se aquele jornalista tem
conhecimento desse fato. Toda profissão tem momentos de glória e de
derrota. Esse fato eu relato apenas para demonstrar o risco de que algo
mal analisado pode gerar informações e interpretações negativas a
respeito dos assuntos comentados. Tal é o caso dessa farsa que o governo
está utilizando eleitoreiramente e colocando a opinião pública contra a
classe médica e sua instituições representativas.
(...) Posso
garantir que tenho experiência como médico e administrador em saúde que
fui, em todas as áreas de atuação médica, pública, privada, militar e
suplementar. Hoje estou aposentado por tempo de serviço, mas assisti e
acompanhei com apreensão a formulação e tentativa de implementação do
SUS, que é o grande culpado pela atual crise da assistência médica no
país. Não pelos seus conceitos teóricos básicos ( universalização,
descentralização, hierarquização ), mas pela forma imediatista de sua
aplicação na prática, não se considerando as desigualdades regionais.
Seus principais mentores, que merecem meu respeito e admiração, Sérgio
Arouca, Ezio Cordeiro e outros, não tiveram o apoio político e o poder
econômico que os fortificassem no enfrentamento dos problemas e busca
das soluções, posteriormente ao advento da lei promulgada.
É
preconizado pelo Sistema que a assistência em Atenção Básica é de
responsabilidade municipal. Conceito correto, talvez, se considerarmos
grandes e ricos municípios, mas não para os demais quase cinco mil
outros. As realidades são diferentes. Como sustentar salários dignos
para médicos e outros profissionais de saúde, em suas várias
especificidades, em municípios carentes de estrutura funcional própria ?
Até mesmo no Rio de Janeiro, houve a tentativa de transferir a gestão
e manutenção de pessoal e material dos hospitais federais para o
município. O caos foi de tal ordem que a medida de solução adotada foi a
quase imediata reversão das transferências. Alguns municípios que
tentam atrair médicos para trabalhar em seus postos de saúde, o fazem
com promessas verbais de altos salários, sem vínculos oficiais, e acabam
por não fazer os pagamentos devidos, ou, quando o fazem, é por três ou
quatro meses. Há dezenas de casos denunciados dessa prática. Quando o
assunto é concurso público, o edital oferece salário aviltante que não
atrai o profissional para a região.
O governo federal então, em
ano eleitoral, inventou o "Bolsa médico", para pagar aos médicos que vão
trabalhar nesses municípios. Por que bolsa? Por que não um concurso
para uma carreira de médico do SUS, específica para trabalhar sempre
inicialmente em municípios do interior, indicados pelo órgão
governamental apropriado, com salários dignos e a possibilidade de
aprimoramento e progressão continuados, como existem nas demais
carreiras do serviço público federal, que muitas vezes servem nos
municípios (procuradores, engenheiros, juízes, promotores, etc. ).
Pergunte a um advogado se ele seria juiz em um município ganhando uma
"bolsa". Poderiam dizer: mas um juiz? E um médico com seis anos de
estudo, pode? O senhor trabalharia por uma bolsa? O que a classe quer é
uma carreira com concurso público e salário decente. Ninguém quer
mordomia, ou não seria médico. Procure pedir informação de quanto é o
salário de um médico de hospital federal no RJ e compare com o salário
de outras categorias.
Se o governo quer mandar dinheiro para Cuba,
por razões ideológicas do atraso eterno, deve admitir tal intenção e
arcar com as consequências. Mas essa "marketagem" ridícula, usando a
população pobre como desculpa e atingindo mais uma vez a classe médica,
chega às raias do absurdo. A máscara está começando a cair.
Finalizando,
gostaria de lhe dizer que sou do tempo em que presidentes da República,
senadores, deputados, etc., quando enfermos, internavam-se no Hospital
dos Servidores, Hospital da Lagoa, Hospital de Ipanema. Os melhores
centros de queimados do RJ estavam no Hospital do Andaraí, Hospital
Souza Aguiar, Hospital da Aeronáutica. A seleção brasileira de futebol
da copa de 78 fez todos seus exames e preparativos médicos no Hospital
Cardoso Fontes. Quer nas emergências quer nas eletivas eram nesses
hospitais que estavam as melhores equipes médicas e os melhores
equipamentos, os melhores centros de residência médica nas várias
especialidades , naquela época não se usava Sirio nem Albert. Por que
não vão se tratar em Cuba???