Enquanto o sistema de saúde no Rio de Janeiro agoniza em meio à crise financeira do estado, médicos recebem para trabalhar, mas faltam aos plantões. Uma denúncia mostra que um deles, Gilberto de Oliveira Lima, além de médico da rede pública, é vereador e presidente da Comissão de Saúde Pública do Rio, responsável por fiscalizar a saúde no município.
O anestesista, mais conhecido como Doutor Gilberto, é vereador pelo PTN e presidente da Comissão de Saúde Pública da Câmara de Vereadores do Rio. No último fim de semana, estava na escala de plantão de 24 horas na emergência do Rocha Faria e não foi encontrado pela reportagem. Funcionários afirmaram que ele nunca vai aos fins de semana.
Além disso, alguns profissionais recebem para trabalhar nos mesmos dias e horários e em unidades diferentes do estado e do município. É o caso da mulher do vereador Dr. Gilberto, Mara Gisele Santos Souza, também médica e plantonista no Rocha Faria.
O nome dela aparece ao mesmo tempo na escala de outros hospitais da rede pública. No dia 6 de janeiro, por exemplo, ela estava escalada num plantão de 24 horas no Rocha Faria, mas, no mesmo dia, o nome dela aparece no plantão diurno, de 12 horas, na Coordenação de Emergência Regional da Secretaria Municipal de Saúde.
A mesma duplicidade de escala da Dra. Mara também aparece nos dias 2, 9, 24 e 30 de dezembro de 2015. No dia 10 de setembro ela estava escalada pra fazer plantão diurno no Hospital Municipal Pedro Segundo e no plantão de 24 horas do Rocha Faria.
O Jornal Nacional teve acesso a uma das fichas de controle de frequência do ano passado. Um outro nome chama a atenção: Ana Carolina Brás de Lima, que era chefe da anestesia, que é filha do Dr. Gilberto.
O secretário estadual de Saúde, Luiz Antônio Teixeira Júnior, determinou a instauração de processo administrativo para apurar as denúncias contra o casal de médicos Mara Gisele e Gilberto Lima.
Até R$ 2,5 mil por plantão
Um médico que já trabalhou nos hospitais Rocha Faria e Pedro Segundo, disse que o esquema da escala é antigo e paga a quem não trabalha. Segundo ele, normalmente um médico ganha entre R$ 1,8 mil e R$ 2 mil por plantão. No fim de semana o valor chega a R$ 2,5 mil.
“Quem sofre é a população e nós que trabalhamos que acabamos ficando sobrecarregados, né? A gente trabalha pelos outros. A população demora a ser atendida. Às vezes não consegue ser atendida. A gente trabalha muito, não recebe o que a gente deveria trabalhar. Acho que falta um pouco mais de fiscalização em cima disso”, declarou o médico, que preferiu não ser identificado.
Por telefone, o vereador Doutor Gilberto disse que, como coordenador de equipe, ele não precisa dar plantão e que o nome dele só entra na escala do fim de semana para completar a carga horária de 24 horas semanais. A mulher dele, Mara Gisele, não foi encontrada para comentar as denúncias.
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que na Coordenação de Emergência Regional, onde a doutora Mara Gisele trabalha, o registro de frequência é feito por ponto biométrico.
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