segunda-feira, 23 de maio de 2011

Superlotação continua no Rocha Faria

 A difícil tarefa de dar à luz nos hospitais do Rio

Ao lado do filho recém-nascido, a doméstica Hosana Avelar, de 30 anos, era uma das quatro gestantes que estavam acomodadas numa cadeira de um dos corredores da maternidade do Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande. Sentada e ainda com os pontos do parto, ela esperava que uma outra mãe tivesse alta para ocupar um leito. O drama das mulheres que se revezam em cadeiras ou ficam até em colchões no chão, antes e depois do parto, foi constatado durante um levantamento do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), nos últimos 30 dias, em maternidades públicas do Centro e das zonas Norte e Oeste da cidade.
- Ficar sentada nesta cadeira é horrível. Os pontos ainda incomodam muito e o corredor é muito frio. Fico preocupada com o bebê - desabafou Hosana, que tentou escapar de ter o seu primeiro filho no Rocha Faria. - Quando eu estava grávida, ficava desesperada sempre que via pela televisão o caos no hospital. Alguns dias antes do parto, tentei ser atendida num hospital de Itaguaí, mas o médico me disse lá que não estava na hora. Quando a bolsa estourou, não tive alternativa.

Moradora de Cosmos, na Zona Oeste, Hosana teve o filho no Rocha Faria no dia 9 deste mês, à tarde, e foi transferida para um corredor da unidade na manhã seguinte. De acordo com o levantamento do Cremerj, no Hospital Rocha Faria, em janeiro deste ano, a média mensal de partos subiu de 350 para 750. Na unidade, por causa da grande demanda, foram adicionadas 25 cadeiras para acomodar as grávidas ou as mulheres já com seus filhos recém-nascidos. Na UTI também foram sentidos os efeitos da escassez de leitos na região. Numa das visitas do Cremerj ao hospital, foi constatado que, num espaço indicado para 20 leitos de UTI neonatal, estavam acomodados 30 bebês.
- Depois do parto, meu filho foi levado para a UTI por causa de problemas com glicose. Eu estava no leito, mas tive que ceder a vaga a outra mãe e fiquei com a cadeira. Estou com muita dor nas costas - contou Nadine Cristina Santiago, de 25 anos, moradora de Santa Cruz, que estava no Rocha Faria. - O Hospital Pedro II (estadual) está fechado. Como fica a população?
Para a presidente do Cremerj, Márcia Rosa de Araújo, a superlotação nas maternidades da cidade foi agravada com o fechamento do Pedro II, em Santa Cruz, e da Maternidade Pro Matre, no Centro. Somadas, essas duas unidades faziam cerca de 900 partos por mês (400 na primeira e 500 na segunda).
- A solução de suprir a carência de leitos nas maternidades colocando essas mulheres em cadeiras é desumana. Esse é um momento crucial, em que é necessário dar todo o amparo à paciente - disse Márcia, informando que encaminhou um relatório com a situação das maternidades ao Ministério Público Estadual

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