Prédio
do Hospital do Iaserj começou a ser demolido em agosto deste ano,
privando a população carioca de uma das mais importantes unidades de
saúde pública da rede estadual
Um
escândalo para ser lembrado como um crime contra a saúde pública,
contra os servidores do estado e toda a população, para beneficiar
empreiteiras, com fortes indícios de irregularidades. Assim pode ser
sintetizada a demolição do Hospital do Iaserj, uma unidade que atendia a
mais de 9 mil pacientes por mês, com 41 especialidades, capacidade para
400 leitos e com mais de 100 mil pacientes do SUS cadastrados.
A
destruição de uma unidade desta magnitude faz parte do projeto
arquitetado pelos governos Dilma Roussef e Sérgio Cabral Filho, com a
conivência do prefeito Eduardo Paes. Pretendem erguer no local, com
verbas do Ministério da Saúde, um centro de pesquisas do Instituto
Nacional do Câncer (Inca), orçado, inicialmente, em cerca de R$ 500
milhões. Contra a transação, desde o início se colocaram os sindicatos,
associações de moradores e conselhos de saúde. Denunciaram o absurdo da
demolição, o prejuízo que causaria à população, já atingida pela
precariedade do atendimento da rede estadual de saúde e a
irresponsabilidade de um gasto milionário para criar apenas 78 leitos a
mais para a Inca, concentrando o atendimento, ao invés de
descentralizá-lo, como aprovado pelo Conselho Estadual de Saúde.
Tropa de Choque
A
cessão do Iaserj para o Inca, feita em 2008 pelo governador Cabral
Filho, foi considerada irregular pelo Tribunal de Contas da União (TCU)
que mandou suspender a demolição e a obra. Mas depois voltou atrás.
Ações judiciais contestando o projeto deixavam de ser julgadas. Acionado
durante anos, o Ministério Público não se movimentava. A Assembleia
Legislativa do Estado (Alerj), controlada por Cabral, aceitou a cessão
do Iaserj. A transação só poderia ser feita com aprovação de emenda
constitucional ou projeto de lei, já que pela Constituição do Estado e
lei ordinária as instalações do hospital pertencem aos servidores.
Em
julho de 2012, Cabral determinou à Tropa de Choque o cerco e a invasão
do Iaserj. Do hospital, de madrugada, foram removidos equipamentos caros
e pacientes internados, muitos deles internados em CTI, sem licença das
famílias ou dos médicos que tratavam deles. A retirada tinha sido
proibida por liminar do juiz Daniel Vianna Vargas, no dia 7 de junho.
Mas foi cassada no dia 11 de julho pela juíza Simone Lopes da Costa, da
10ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Rio (Comarca da
Capital). Em setembro o Inca, dirigido por Luiz Santini, tomou posse
efetiva do Iaserj e começou a demolí-lo.
Pacientes criticam demolição e transferência de serviços para o Maracanã
Os
servidores do Hospital do Iaserj Central, cerca de 1.500, foram
transferidos para o ambulatório do Iaserj no Maracanã. Ao contrário do
que afirmou o secretário estadual de saúde, Sérgio Côrtes, a unidade não
tem espaço para atender todos os pacientes do Hospital Central do
Iaserj.
Nair
Joaquina dos Santos, 72 anos, é paciente do Centro de Tratamento de
Feridas (Cetaf) do hospital, único no estado. Critica o governo Cabral
pela demolição e diz que dá dor no coração ver aquilo tudo ser
destruído. “Andei por dois, três hospitais, mas só encontrei tratamento
no Iaserj. Eles são muito bons. Mas a mudança para o Maracanã me
atrapalhou muito”, disse. Alberto, morador da Tijuca, disse que ficou
2h30 para ser atendido no Laboratório do Maracanã porque a sala é
pequena, não cabendo os sete servidores que faziam o serviço rapidamente
no Hospital Central do Iaserj. “Está sempre lotado”, acrescentou.
Teresinha
de Jesus acusa os envolvidos no projeto de agirem por interesse pessoal
e acha que o dinheiro deveria ter uma destinação mais útil para a
população. “Eles fazem tudo isso para entrar dinheiro no bolso deles. Em
vez de mandar pôr abaixo um hospital poderiam fazer reformas neste e
nos outros que estão caindo aos pedaços, colocar mais leitos, pagar
melhores salários”, defendeu. André Luiz Carlos diz que os servidores
procuram atender os pacientes da melhor forma, no Maracanã. “Mas
enfrentam a falta de espaço. O governo mentiu quando disse que daria as
condições necessárias ao atendimento. Outra dificuldade é que o Hospital
do Iaserj era no centro o que facilitava. Aqui, no Maracanã, as pessoas
têm que pegar várias conduções pra chegar”, disse.
Derly
Santos não entende por que o novo Inca tinha que ser construído no
lugar do Iaserj. “Com tanto lugar pra isso, por que demolir um hospital
que funcionava bem para construir um que vai tratar de só uma doença?
Fica difícil de entender”, argumenta. José Silva, 67 anos, morador de
Niterói, até concorda com a demolição, desde que, antes, o Inca
construísse um hospital que substituísse o do Iaserj. “Afinal, como
servidores, contribuímos financeiramente para a construção do Iaserj e
temos direito aos serviços que ele prestava”, lembrou. Valdira da Silva
Santos acha uma indecência gastar milhões para acabar com o Iaserj.
“Aqui, no Ambulatório do Maracanã, só dão 12 números para ortopedia.
Resultado, fiquei sem atendimento e vou ter que voltar outro dia”,
lamentou.
André
Gustavo, professor do estado, condena a destruição do Iaserj Central.
“A gente fica sem compreender como um governador faz a covardia, o
absurdo que fez com o Iaserj. Me consulto lá desde que era criança,
Minha mãe é servidora do estado. Ele acaba com o Iaserj para entregar o
espaço ao Inca que depois entregará, com certeza, o prédio para a
iniciativa privada, como tem acontecido com outros hospitais e também na
educação”. O professor lembra que não se justifica demolir o Iaserj
para construir um centro de pesquisas do Inca, com tanto espaço no
estado para que isso fosse feito. “Por que não constrói o Inca no Porto
Maravilha? Por que ele entregou aquela área para o Eike Batista. É tudo
um absurdo”, constatou.
SINDSPREV
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