sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Por suspeita de incêndio criminoso em hospital do Rio, deputado aciona MP para acompanhar investigação

O deputado estadual Paulo Ramos (PDT) afirmou nesta quinta-feira (4), durante audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que suspeita que o incêndio ocorrido no Hospital Estadual Pedro 2º, no último dia 14, tenha sido provocado intencionalmente. “Eu tenho fundadas suspeitas [de tratar-se de um incêndio criminoso], porque o anúncio tão rápido da transferência [municipalização do hospital]?”, questionou o deputado, referindo-se à municipalização do hospital, anunciada na última segunda-feira (1º) pelo governador Sérgio Cabral (PMDB).

“Como é que decide fechar o hospital, fazer obra, para entregar ao município limpinho e bonitinho sem servidor? O governo decide e ninguém é ouvido. Então me parece que a decisão já estava tomada. O incêndio ou foi muito apropriado ou foi criminoso”, afirmou Ramos. Durante a audiência, a sessão ficou lotada de sindicalistas, funcionários do Pedro 2º e outros hospitais públicos, além de moradores da zona oeste, onde está localizado o hospital. Houve um pequeno tumulto durante a entrada do grupo na Alerj.

Logo após o incêndio, a Empresa de Obras Públicas (Emop) considerou necessária uma grande intervenção nos sistemas elétrico e hidráulico da unidade. Para isso, a Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil (Sesdec) decidiu fechá-lo por tempo indeterminado. Os sindicalistas questionam a decisão e funcionários afirmam que estão com medo de perder o emprego.

O deputado disse ter acionado o Ministério Público a fim de que o órgão acompanhe as investigações das causas do incêndio. “Vou querer ter acesso ao laudo que fundamentou a decisão de fechamento do hospital. Tanto que eu já entrei com uma representação no Ministério Público para que haja um acompanhamento das investigações porque, queiramos ou não, o Poder Executivo está sob suspeição”, argumentou.

Outro lado
O secretário estadual de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Côrtes, foi convidado a participar da audiência, mas enviou como representantes o subsecretário de gestão do trabalho, Sylvio Jorge de Souza Júnior, coronel do Corpo de Bombeiros, e a subsecretária de atenção à Saúde, Hellen Miyamoto.

“Tivemos que agir e tomar uma decisão, mas pode ser que a decisão não tenha sido a mais acertada”, afirmou Miyamoto sobre o fechamento do Pedro 2º.

Souza Júnior não comentou o parecer a respeito das causas do incêndio, alegando não estar sob sua competência. Embora o subsecretário admita ainda não ser possível dizer se o incêndio foi criminoso ou não, ele reforça que o hospital deve permanecer fechado. “Não foi uma decisão nossa fechar o hospital. Segundo o parecer técnico, ele não pode funcionar. Aqui a gente não pode discutir isso”, disse.

O fogo
Por volta das 11h30 do último dia 14, o fogo começou num transformador da rede de energia elétrica no subsolo do prédio. No momento do incêndio, havia 272 pacientes no hospital, dos quais 16 eram crianças recém-nascidas internadas na UTI.

Todos pacientes foram transferidos para outras unidades hospitalares. Porém, cinco óbitos foram registrados após a transferência. Segundo a Sesdec, o Pedro 2º era o hospital com o mais alto número de mortes de pacientes críticos: média de 14 mortes por dia.



Superlotação no Rocha Faria
Grande parte dos pacientes e funcionários do Pedro 2º está sendo transferida para o Hospital Estadual Rocha Faria, em Campo Grande, outro bairro da zona oeste. Segundo Rejane de Almeida, vice-presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio, uma enfermaria masculina com capacidade para atender 14 pacientes está com 60; na enfermaria feminina, são tantas macas que os médicos não conseguem ter acesos a todas as pacientes.
“Na enfermaria masculina, para 60 pacientes, há cinco técnicos de enfermagem e um enfermeiro. É humanamente impossível trabalhar assim”, afirmou Rejane.

Clara Fonseca, presidente da Associação dos Funcionários do Hospital Rocha Faria, criticou as condições de trabalho na unidade. “O Rocha Faria está superlotado. Não temos estrutura física para suportar essa quantidade nem de funcionário nem de paciente”, argumentou.

04/11/2010 - UOL NOTÍCIAS

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