'Não temos como pagar. Vamos cortar nos hospitais e nos gastos de Saúde em geral'
Novo secretário do Rio mira organizações sociais e diz que foram contratados serviços que não pode manter agora
O médico Luiz Antônio de Souza Teixeira Júnior, que assume no dia i.° a Secretaria de Estado de Saúde do Rio, critica o fechamento das emergências de hospitais estaduais, que entraram em colapso neste mês por falta de pagamento de funcionários e insumos. Adianta que terá de cortar custos e mira as organizações sociais, que administram desde Unidades de Pronto Atendimento a instituições de excelência, como o Hospital do Cérebro.
Nesta entrevista ao Estado, Teixeira conta que já tem visitado os hospitais estaduais. Além de leitos vazios, encontrou prédios malcuidados. Médico ortopedista de 42 anos, formado pela Universidade Iguaçu e pai de dois filhos, Teixeira é secretário de Saúde de Nova Iguaçu e substituirá Felipe Peixoto, que decidiu deixar o cargo em meio a pior crise da história da saúde fluminense para se candidatar a prefeito de Niterói.
O colapso na saúde poderia ter sido evitado pela administração?
O que aconteceu é que foram contratados diversos serviços no momento em que o Estado podia pagar, mas quando o Estado começou a ter dificuldades financeiras, diversos serviços poderiam ter sido otimizados. Isso é muito difícil, pois todo mundo tem medo de cortar na saúde. Mas está comprovado que teremos de fazer cortes necessários e não tem outra opção. O que não pode acontecer é interromper o atendimento nas emergências da maneira como aconteceu.
Como o senhor avalia este modelo de gestão?
A OS é um instrumento de gestão. Um contrato bem feito, bem utilizado, é válido. O problema é que, nesse momento, precisamos rever os valores. Não temos condições de pagar, não tem outra maneira.
Não é questão de ser a favor ou contra. Em Nova Iguaçu, eu não tenho OS porque nunca pude pagar. Alguns locais, como institutos especializados, não têm como administrar a não ser por OS. Mas tem de estar dentro do nosso orçamento. É como fazemos nas nossas casas. Só vamos contratar o que tivermos condições de pagar. Mas é claro que é um trabalho de médio a longo prazo.
Onde vai cortar gastos?
Nos hospitais e em toda a Secretaria Estadual de Saúde. Vamos cortar gastos de forma geral. No aluguel de imóveis, cargos comissionados, contratos terceirizados. Vamos olhar todos os contratos com as organizações sociais, ver o que está contratado para saber o que vamos cortar. Não tem jeito, precisamos economizar.
O governador trocou um político, Felipe Peixoto, por um técnico, o senhor. Isso representa alguma mudança de visão da gestão da pasta?
O Felipe tentou fazer o possível. No momento em que vai perdendo recursos e entra na inadimplência, para renegociar a dívida é muito difícil. Enquanto está pagando em dia, renegociar é um pouco aceitável. Eu, como vim de uma cidade pobre, como já administrei com pouco recurso, a minha característica é otimizar serviço. O governador está me contratando porque eu sei administrar com pouco recurso. Vou ter de me virar, eu sei disso. A maioria das pessoas me desaconselhou a assumir essa pasta. Imagina assumir com R$ 1, 3 bilhão de dívidas? Com todas as emergências paradas? Mas tenho confiança no governador e nos profissionais de saúde, porque eles estão fazendo a diferença nos seus postos de trabalho. Precisamos ter uma mudança.
Qual será a sua primeira medida como secretário?
Já estou fazendo, trabalhando dia e noite para retomar o funcionamento das emergências. Comecei a trabalhar quando o governador me anunciou, visitei hospitais, almoxarifados. Já participei até de teleconferência com a presidente Dilma. Esses boletins diários informando o que está funcionando em cada hospital foi uma ideia minha. Estamos suprindo a falta de material nos hospitais. Temos de manter isso regularizado para o ano-novo, botar em dia os pagamentos dos funcionários, evitar a paralisação. Estou olhando com lupa cada gasto. Minha primeira ação será uma medida de austeridade para cortar custos. Vou anunciar um pacote de cortes.
O que o senhor observou nestas visitas aos hospitais estaduais nesta última semana?
Temos problemas pontuais, como leitos vazios e a condição predial ruim, como no Hospital Getúlio Vargas (Penha, zona norte do Rio), que estava com portas quebradas e sem maçanetas. Sei que as unidades estavam com leitos vazios porque estavam desabastecidas, não estavam recebendo insumos. Mas me entristece porque é um grande hospital e há pessoas precisando de leitos.
O sistema de saúde do Rio de Janeiro entrou em colapso na semana passada e levou o governo a decretar situação de emergência. Unidades de referência só aceitavam pacientes com risco de vida. Graças ao empréstimo de R$ 100 milhões da Prefeitura do Rio e de R$ 45 milhões do Ministério da Saúde, os hospitais retomaram as atividades. Mas os valores não garantem o atendimento durante todo o mês de janeiro. O principal rombo é no pagamento das organizações sociais que administram hospitais - dívida de R$ 649,9 milhões. Já às empresas que administram as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), o governo deve R$ 176,5 milhões.
O que pode ser feito em relação à distribuição desses leitos?
Vamos buscar otimizá-los, com uma regulação entre os hospitais eficientes. Não podemos deixar isso acontecer nunca mais. Principalmente porque é obrigação das OSs, contratualmente, suprir as unidade de medicamentos e materiais. Não pode passar o problema para a secretaria. Mesmo que tenha algum atraso de pagamento, precisa suprir.
O governador lhe pediu algo?
Ele me pediu que o ajudasse a melhorar a situação das emergências e a fazer um grande programa de longo a médio prazo de atenção básica à saúde na região metropolitana. Além de ajudar os municípios, ampliando o Programa de Saúde da Família. Ele tem também uma vontade muito grande, apesar de toda a crise, de fazer o Hospital Geral da Baixada Fluminense.
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