A Frente Nacional contra a Privatização da Saúde repudia o conjunto de medidas que, segundo notícia veiculada na Folha de São Paulo em 27/02/2013,
o Governo Federal prepara desde o início do ano e que amplia a trilha
da privatização da saúde em curso, através da radicalização do
favorecimento já amplo ao mercado de planos e seguros de saúde.
Na reportagem é relatado que a própria Presidenta, pessoalmente, vem
negociando com grandes empresas que atuam no mercado de planos privados
de saúde – a maioria controlada ou com grande participação do capital
estrangeiro e grandes doadoras da campanha presidencial de Dilma
Rousseff – um pacote de medidas que transferirão mais recursos públicos
para suas já vultosas carteiras através de redução de impostos, novas
linhas de financiamento e outros subsídios a expansão do seu mercado.
Tal proposta consistiria na prática em universalizar o acesso à saúde
das pessoas através de planos e seguros privados, e não através de
serviços públicos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O preceito
constitucional da saúde como direito é ferido mortalmente, ao ser
substituído por uma abordagem da Saúde como mercadoria a ser mais
amplamente consumida, especialmente para as chamadas classes C e D, para
impulsionar o atual modelo de desenvolvimento.
Esta pode ser a formalização final para a instituição de um seguro saúde
e criação de um Sistema Nacional de Saúde integrado com o setor
privado, tendo como consequência acabar com o SUS ou torná-lo um sistema
focalizado, consagrando o processo de universalização excludente que
vem ocorrendo desde os anos 1990 com a saída dos trabalhadores melhores
remunerados, que foram impulsionados à compra de serviços no mercado
privado devido ao sucateamento do SUS. Esse movimento faz parte do mesmo
processo de aprofundamento da subordinação do país ao grande
capital financeiro, atrelado aos interesses do imperialismo. Contra
fatos não há argumentos: há um crescimento no número de usuários de
planos de saúde de 34,5 milhões, em 2000, para 47,8 milhões, em 2011,
tendo o Brasil se tornado o 2º mercado mundial de seguros privados,
perdendo apenas para os Estados Unidos da América.
A referida medida que beneficia os planos privados é anunciada poucos
meses depois da venda de 90% da AMIL, maior operadora de planos privados
de saúde do Brasil, para a empresa norte-americana United Health, e do
anúncio do seu fundador, Edson Godoy Bueno (um dos maiores bilionários
brasileiros) da meta destes planos atingirem 50% da população
brasileira, ou seja, duplicar a sua cobertura para 100 milhões de
brasileiros. A estratégia anunciada pela United Health para o Brasil é
crescer entre o público de baixa renda.
Tal política não responde aos interesses da maioria da Nação: sistemas
de saúde controlados pelo mercado são caros, deixam de fora idosos,
pobres e doentes; são burocratizados e desumanizados, pois as pessoas
são tratadas como mercadorias. Se o SUS hoje não responde aos anseios
populares por uma saúde universal de qualidade, de acordo com a
Constituição de 1988, não é pelas deficiências do modelo - há modelos de
sistemas universais como Reino Unido e Cuba, amplamente bem
considerados pela população e com indicadores de saúde melhores do que o
sistema de mercado da nação mais rica do planeta, os EUA – mas porque
os governos não alocam recursos suficientes, não cumprem a legislação e
porque a democracia, expressa no controle da sociedade sobre o sistema
de saúde, não é respeitada.
O que se constata é que o Estado está cada vez mais mínimo para o SUS e
máximo para o mercado. A privatização desta vez não é de forma
travestida de modernização da gestão, como no caso dos “novos” modelos
de gerenciamento: Organizações Sociais (OSs), Organizações da Sociedade
Civil de Interesse Público (OSCIPs), Fundações Estatais de Direito
Privado (FEDPs), Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e
Parcerias Público-Privada (PPPs). Ou mesmo na forma da
complementariedade invertida, em que a rede privada, em vez de ser
complementar à pública, tem absorvido 62% dos recursos públicos
destinados aos procedimentos de alta e média complexidade, através de
convênios e contratação de serviços da rede privada pelo SUS.
A atual inflexão, se confirmada, vaticina uma total derrota do Movimento
da Reforma Sanitária, que na 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986)
defendia uma progressiva estatização do setor, pois o inverso é que se
materializaria. Tornar-se-ia absoluta, e em níveis nunca antes vistos
nesse país, a tendência da nossa história recente de alocar cada vez
mais os fundos públicos para o setor privado da saúde, em detrimento da
ampliação do setor público para a garantia do direito de todos à saúde e
do dever do Estado de prestar serviços à população.
Por que o governo tem recursos para subsidiar o setor privado, mas alega não ter para ampliar a rede pública de saúde?
Por que o governo não atende às demandas dos movimentos sociais, das
Conferências Nacionais de Saúde e dos Conselhos de Saúde para destinar
10% da receita corrente bruta da União para a saúde pública?
Por que a regulamentação da Emenda 29 não trouxe recursos novos para o SUS como estava previsto?
Por que se aprofunda a precarização da força de trabalho na saúde e a terceirização dos serviços de saúde?
Por que se mantém a DRU (Desvinculação das Receitas da União)?
Porque há uma Lei de Responsabilidade Fiscal draconiana e nenhuma lei de responsabilidade sanitária ou social?
Por que não se respeita o controle social (Participação da Comunidade no SUS)?
A Frente Nacional contra a Privatização da Saúde tem empreendido lutas
contra todas as formas de privatização que vem ocorrendo após os anos
1990. Contra o desmonte do SUS público estatal e às medidas do atual
governo de fortalecimento do setor privado de saúde, a Frente reafirma
suas bandeiras:
- Defesa incondicional do SUS público, estatal, universal, de qualidade e sob comando direto do Estado
- Contra todas as formas de privatização da rede pública de serviços:
OSs, OSCIPs, Fundações Estatais de Direito Privado, Empresa Brasileira
de Serviços Hospitalares; e Parcerias Público Privadas
- Contra a implantação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
(EBSERH), impedindo a terceirização dos Hospitais Universitários e de
ensino federais
- Pela Inconstitucionalidade das Leis que criam as Organizações Sociais (OSs) e a EBSERH
- Defesa de investimento de recursos públicos no setor público
- Pela gestão e serviços públicos de qualidade
- Defesa de concursos públicos RJU (Regime Jurídico Único) e da carreira pública no Serviço Público
- Contra todas as formas de precarização do trabalho
- Pelo fim da Desvinculação das Receitas da União (DRU)
- Exigência de 10% da receita corrente bruta da União para a saúde
- Defesa da implementação da Reforma Psiquiátrica com ampliação e
fortalecimento da rede de atenção psicossocial. Contra as internações
compulsórias e a privatização dos recursos destinados à saúde mental via
ampliação das comunidades terapêuticas
- Pela efetivação do Controle Social Democrático
- Por uma sociedade justa, plena de vida, sem discriminação de gênero,
etnia, raça, orientação sexual, sem divisão de classes sociais!
FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE
Março de 2013
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